Alberto Teta Lando nasceu em 1948 numa familia proprietaria de fazendas de cafe' no norte de Angola. Aprendeu viola com a mae que, jovem, tinha tocado com Manuel de Oliveira e Jorge Eduardo (do grupo San Salvador), antes da partida destes para o Congo. "Comecei inspirando-me em proverbios, contos e ritmos Kikongo. A minha mae transmitiu-me um pouco do reportorio de San Salvador." Aquando das revoltas de 1961 "o meu pai apoiava a UPA. Os portugueses mataram-no e espetaram a cabeca dele num pau. Tiraram-nos as terras."
Mumpiozzo Ame - Tela Lando (1969)
Em Lisboa a partir de 1963, toca com Rui Mingas e Bonga e acompanha Lily Tchiumba. "Em Portugal aprendi novas harmonias." De novo em Luanda em 1968, integra o Africa Show do percussionista Massano e grava Mumpiozzo Ame (Assobio Meu). "De forma velada, dizia a minha revolta." O tema e' um grande sucesso. Teta Lando trouxe a musica angolana o seu patrimonio Bakongo, os seus talentos de harmonista e novos tratamentos ritmicos. Desde entao a sua influencia musical tem sido determinante.
Teta Lando faleceu (Obituario).
Um Assobio Meu - Patricia Faria (2004)
[Fonte: Angola 60's (1956-1970) - Buda Musique 1999]
Os conjuntos do Norte de Angola, muito profissionais e ligados ao desenvolvimento musical do Congo e do Zaire, fizeram sucesso junto dos luandenses e influenciaram bastante os guitarristas.
Super Coba, a mais famosa orquestra de Cabinda, tinha tambem prestigio no Congo Brazaville e no Zaire. Ficou uma temporada em Luanda. Tinha vinte e cinco elementos, metais, bateria, quarto violas, e um vasto reportorio em Lingala, Kikongo, Frances, Ingles e Portugues. Eram caracteristicas suas musicas longas com paragens e mudancas de ritmo. Tambem tocavam musicas de Otis Redding e James Brown. Dominavam muito bem a orquestracao e a instrumentacao era muito trabalhada. Finpantima tem sopros muito singulares.
Finpantima - Super Coba (1973)
Cabinda Ritmos chegou a Luanda e gravou nos estudios da Radio Voz de Angola, com Artur Arriscado, Café, uma musica muito celebre de Franco. Dionisio Rocha convenceu-os a ficar na capital onde fizeram muito sucesso. Cantavam em Kikongo musicas de Cabinda com influencias do Congo Brazaville.
Celestina - Cabinda Ritmos (1973)
Ngoma Jazz, formado em Luanda por musicos vindos do norte e pertencentes ao Quinteto Angolano, tocava na Igreja Tocoista e produzia-se tambem nos espectaculos de Luis Montez. Os percussionistas luandenses Magololo (tumbas) e Caetano (bongos) integraram periodicamente o Ngoma Jazz cujo reportorio era em Kikongo e Kimbundu.
Belita Kiri-Kiri - Ngoma Jazz (1973)
Paulino Pinheiro canta em Kikongo. Merengue Rebita, danca muito tipica do repertorio dele, foi um sucesso. "Helena meu amor, vamos dancar o merengue rebita"...
Merengue Rebita - Paulino Pinheiro (1973)
As letras dos sembas e dos lamentos de Antonio Paulino eram notaveis. Gienda ya Mama tornou-o muito popular pela intensa expressividade da letra e da musica. "Estou a ver a minha pobreza, e por isso choro." A tristeza e a sensacao de solidao apos o falecimento da mae foram ressentidos pelo publico angolano como uma exteriorizacao do sofrimento que se vivia naquela fase colonial. A emocao tambem e' suscitada pela execucao dos Jovens do Prenda, com a musicalidade influenciada pelo estilo do Congo-Zaire.
Gienda ya Mama - Antonio Paulino (1973)
Africa Show, foi formado em 1969 por Jose' Massano Junior, percussionista e tambem dancarino espectacular. O grupo, que acompanhou Ze' Viola e Teta Lando, foi o conjunto mais moderno da epoca, introduzindo as violas electricas, o orgao (Tony Galvao) e os sopros (Nando Tambarino). Acabou em 1975 por razoes ligadas ao conturbado ambiente politico. Massano foi para o Zaire, regressou a Luanda em inicio dos anos 80, integrando o conjunto Primeiro de Maio. As Meninas de Hoje foi um grande sucesso: "Menina nao quero confianca. Primeiro falamos com os teus pais. Senao vamos arranjar problemas".
De como o estilo Bakongo teve um papel determinante no nascimento das musicas urbanas dos anos 60
San Salvador:Henrique Freitas, Manuel de Oliveira, Jorge Eduardo nasceram nos anos 20, perto de Sao Salvador (norte de Angola, hoje M’Banza Kongo). Na cidade fronteirica de Matadi, ouvem musicas Bakongo tratadas em estilo cubano. Em 1948, em Leopoldville, formam o San Salvador e em Setembro de 1949 gravam vinte musicas para a etiqueta Ngoma, do grego Nico Jeronimidis. Na sede da Ngoma encontram Wendo, autor de Marie Louise, primeiro sucesso da rumba congolesa. Manuel de Oliveira e Wendo tocam juntos e com o jovem Franco, bakongo como eles. Apos a independencia do Zaire (1960), o desenvolvimento da producao discografica, das discotecas e dos bares atrai musicos de diversos paises africanos. Kinshasa torna-se o centro da musica urbana do continente. San Salvador continuou ate’ aos anos 80. Muitos musicos angolanos fizeram uma brilhante carreira no Zaire: Diana que cantou quinze anos com Tabuley Rochereau, Matadidi, Sam Mangwana…
Nos bairros (Sambizanga, Marcal, Sao Paulo em Luanda) as turmas de jovens cantam com acompanhamento de percussoes. Constroem as suas violas com latas de azeite e linhas de pesca. Pela radio e nos bailes, ouvem sambas, boleros, merengues, son cubano, rumbas zairenses. Mais tarde tocam nos centros recreativos e criam a musica urbana que se afirmara’ nos anos 70.
Enzol' Eyaya- San Salvador (1959)
Os Gingas foi um dos primeiros conjuntos importantes de Luanda. Tinha violas e varias percussoes como a puita do Kakulo Kalumba. Em Lamento, Duia faz um solo de viola onde transparece a sua admiracao por Wendo. A criatividade de Duia tornou-se um exemplo para grandes guitarristas (Marito, Baiao, Ze’ Keno, Carlitos Vieira Dias).
Lamento - Gingas (1965)
Formado por musicos vindos do Norte, em meados de 60, o Quinteto Angolano de Matomona Sebastiao faz sucesso em Luanda. Mais tarde transformou-se em Ngoma Jazz.
Kupassiala Kua Aba - Quinteto Angolano (1969)
Dimba Diangola, um dos grupos mais antigos (1963), durou duas decadas entremeadas de algumas interrupcoes.
Fixe - Dimba Diangola (1970)
Os Kiezos, conjunto incontornavel da historia musical angolana, foi fundado em 1964, por jovens do Marcal e do Sao Paulo. Marito toca viola solo. Rumba 70, na realidade um samba-rumba, demonstra a solida construcao ritmica.